Na faculdade, havia quem lhe admirasse a perfeição das formas e da pele e quem a invejasse, mas ninguém duvidava de que aquela loura miúda de olhos verdes era humana. Mas se um colega mais antenado (desta vez no sentido figurado, bem entendido) com os debates sobre a pós-modernidade soubesse de seus segredos, talvez a considerasse uma ciborgue. Ou uma neo-humana. Em todo caso, uma transumana.
O corpo de Jaya era o resultado da aplicação de dois mil anos de nanotecnologia e engenharia genética a humanos basais como os que ali a cercavam. Nanobôs em perfeita simbiose com suas células modificadas reforçavam ossos e músculos e lhe aceleravam e multiplicavam a regeneração de tecidos e os recursos de seus sistemas imunológico, nervoso e sensorial, além de lhe conferir capacidades adicionais de controle do corpo, manipulação de energia e transcepção de ondas de rádio, como as que se preparava para enviar pelo portal dimensional aberto na sala-quarto a seu parceiro totalmente inumano.
O que você curte nos super-heróis?
A proposta de levar esse tema dos quadrinhos à literatura tem dois atrativos interessantes. Um é desenvolver com mais coerência os motivos e ideias de um protagonista capaz de fazer coisas muito acima da capacidade dos outros personagens de seu mundo, o que seria chato no contexto visual dos quadrinhos e do cinema, que exigem mais ênfase na ação, mas cabe bem num texto. O outro é a possibilidade de brincar com os clichês e convenções do gênero, com a mistura de ideias infantis, juvenis e adultas que cabem nele e com seus padrões de verossimilhança bem elásticos.
Como foi escrever para uma coletânea sobre super-heróis, mas tendo essa questão da identificação luso-brasileira?
Para mim é natural. Escrever a partir da cultura brasileira é o meu padrão, mesmo que o cenário seja outro país ou outro planeta. Buscar uma identidade diferente é que exige um esforço especial.
Das ideias que você poderia ter, por que Jaya?
Jaya e Virtual Boy foi uma história criada inicialmente para entreter meus filhos e os dois heróis são baseados neles, ou numa caricatura de como eles eram por volta de 2003 (não que tenham mudado tanto assim) combinada com ideias e manias da época em relação a ficção científica, teorias conspiratórias e política (que também penso não terem envelhecido demais). Quis fazer uma história divertida e de sabor infantojuvenil sem ser banal ou ingênua. Algo capaz de interessar crianças e adolescentes inteligentes.
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